The what, why, when, and where of socialism, communism, and Marxism.

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Para explicar a visão socialista do mundo, é importante que primeiro estabeleçamos uma fundação filosófica. Os socialistas acreditam que todos os membros de uma sociedade devem ser iguais entre si, e que todos têm determinados direitos fundamentais e inalienáveis. Isto inclui quer os direitos materiais—tais como o direito a comida e água—e direitos imateriais—tais como o direito à liberdade de expressão.

Listados abaixo estão alguns dos direitos humanos que acreditamos que devem pertencer a todos, independentemente da sua classe social, raça, género, orientação sexual, ou habilidade física e/ou mental.

Liberdade de expressão

O direito a expressar as tuas ideias sem medo de sérias repercussões (como pena de prisão ou de morte) é um direito fundamental e inalienável de todas as pessoas. Este direito não deve, no entanto, ser usado como uma desculpa para ameaçar, assediar, ou de outra forma infringir as liberdades e direitos legítimos de outras pessoas. Discurso de ódio não é liberdade de expressão.

O direito a votar e de ser eleito

O socialismo uma ideologia fundamentalmente democrática. A palavra democracia vem do Grego "demos" (pessoas) e "kratia" (poder): Literalmente, "poder no povo". O capitalismo, enquanto se afasta progressivamente do feudalismo, é inerentemente não-democrático. A economia, que determina todos o tipos de coisas variando de qualidade e disponibilidade de serviços de saúde e educação até se dormimos com um teto sobre as nossas cabeças ou então na rua, não é controlado pelas pessoas. O capitalismo põe os ricos no poder de reger a economia, e consequentemente ao comando das nossas vidas. O socialismo põe as pessoas ao poder da economia, fazendo a economia democráticamente controlada. A forma como isto é feito varia de tendência para tendência, mas o princípio é o mesmo: A economia é demasiado importante para ser colocada nas mãos de uma pequena fração da população. "Democracia" sob o capitalismo - simplesmente escolhes entre dois partidos, sendo que não concordas particularmente com nenhum dos dois, e colocas o boletim na caixa de voto a cada 4 anos à espera que o teu voto não seja um dos ~3 milhões que são ignorados, isto para mais tarde descobrir que o político no qual votaste se vendeu à corporação de tabaco Philip Moris que doou 1.6 milhões de dólares para financiar a sua campanha - não é democracia. É por isto que o direito a votar e a ser eleito num sistema democrático livre, justo, honesto e aberto - sem políticos de carreira, nepotismo, corrupção, ou suborno - é fundamental e inalienável.

O direito a comida e água

O mundo coletivamente produz comida suficiente para alimentar toda a humanidade. De facto, o mundo produz comida mais que suficiente. E no entanto, o número de pessoas subnutridas no mundo tem vindo a aumentar desde 2014, alcançando uma estimativas de 815 milhões em 2016 (Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura, 2017). Os países ricos não só têm problemas com obesidade, como também desperdiçam toneladas de comida todos os dias. As empresas privadas consideraram que os alimentos que não podem ser vendidos (leite que está um dia fora do prazo, tomates que não são vermelhos ou brilhantes o suficiente, bananas que não são curvadas o suficiente) devem ser postos ao lixo, e deve ser posta lixívia por cima para que as pessoas com fome e os sem abrigo não os comam. Não só negar comida a quem precisa mesmo quando se tem muita, mas sair do seu caminho para garantir que quem tem fome não consegue comer nem o teu lixo, é uma prática bárbara e desumana. É por isto que o direito a ter comida e água suficientes para levar uma vida saudável é fundamental e inalienável.

O direito a segurança social e a habitação

A segurança social garante uma vida confortável àqueles que estão temporariamente ou permanentemente incapacitados de trabalhar devido a uma doença, incapacidade ou idade, garante que pais de novos bebés possam tirar um tempo do seu trabalho com remuneração para cuidar do seu recém-nascido, garante que nenhuma família será incapaz de cuidar das suas crianças por razões financeiras, e garante ainda que todas as pessoas sejam capazes de pagar por necessidades básicas como habitação, comida, roupa, telemóvel, e internet. A segurança social é um requisito para uma sociedade humana, e por isso é um direito fundamental e inalienável.

O direito à prática religiosa

Enquanto o Marxismo é uma visão filosóficamente materialista do mundo. e assim descarta a religião como não-científica, não há dúvida que a prática religiosa é um direito fundamental e inalienável de todas as pessoas. As casas de culto, sejam elas igrejas, templos, mesquitas ou outras, devem estar disponíveis a todos aqueles que as queiram frequentar.

O direito à educação

A educação, sendo o sistema que é suposto ajudar alguém a ser produtivo, responsável, um membro adulto da sociedade, deve ser da melhor qualidade, mudando e adaptando-se às novas descobertas na ciência social, e deve estar disponível sem qualquer tipo de custo a todos os que a procuram, desde a pré-escola até à universidade. A longo prazo, uma educação de qualidade melhora a nossa sociedade em todos os pontos possíveis. É por isto que a educação é um direito fundamental e inalienável.

O direito à saúde

Não há direito mas fundamental do que a própria vida. Toda a gente, independentemente da sua raça ou nacionalidade, religião, qualificações literárias ou residenciais, origem social, estatuto de propriedade, atividades passadas ou posses monetárias, tem o direito de ser tratado por pessoal médico e de receber medicação apropriada em caso de doença física ou mental ou de lesão. Todos os procedimentos médicos que são requeridos para uma pessoa viver uma vida confortável sem dor física ou angústia mental devem estar disponíveis sem qualquer custo a todos os que os procurarem. Os cuidados de saúde, sejam mentais ou físicos, são um direito fundamental e inalienável.

O direito a emprego e a ser remunerado

Com o socialismo, lá se vão os dias nos quais te sentavas atrás de uma secretária 8 horas por dia com o único propósito de encher os bolsos do teu chefe. Os trabalhos devem ser idealmente ocupações que contribuam de alguma forma para o bem-estar coletivo da sociedade como um todo. Toda a gente tem a capacidade de contribuir para a sociedade, e a sociedade terá recursos para pagar a todos os trabalhadores salários decentes. Sob o capitalismo, o desemprego é benéfico para os ricos. Sob o socialismo, o desemprego não é benéfico para ninguém. É por isso que o direito a emprego e o direito a ser remunerado pelo trabalho em concordância com a qualidade e quantidade do mesmo é um direito fundamental e inalienável.

O direito ao descanso e ao lazer

O Trabalho excessivo e o stress levam a mais dias doentes, baixa produtividade, baixa satisfação no trabalho, alienação crescente, bem como mais casos de depressão clínica e suicídio. O direito ao descanso e ao lazer é fundamental e inalienável, e deve ser assegurado pela redução do dia de trabalho de oito para seis horas para a grande maioria dos trabalhadores, férias anuais totalmente remuneradas, e grande disponibilidade de entretenimento como bibliotecas, restaurantes, discotecas, resorts e assim por diante.

Nós não somos sociais democratas

Muitas nações europeias praticam uma ideologia conhecida como social democracia. A social democracia é uma ideologia que apoia "intervenções económicas e sociais para promover a justiça social dentro do enquadramento de uma economia capitalista", sendo por isso uma ideologia capitalista, e não socialista. O socialismo, por definição, opõe-se ao capitalismo e procura desmontar o sistema capitalista. Enquanto que as nações sociais democratas se saem bem em alguns aspectos, são apenas capazes de oferecer coisas como segurança social aos seus cidadãos devido à disponibilidade de mão-de-obra barata em países de terceiro mundo, e através de impostos elevados na classe trabalhadora. Nós socialistas opomo-nos ao uso de trabalhos vindos de países de terceiro mundo e opomo-nos também a impostos na população em geral. Nós acreditamos na apropriação comum das empresas, a produtividade das quais será usada para benefício da sociedade e não apenas os CEOs. Os impostos e o redistribucionismo apenas atacam os sintomas de desigualdade, e não a causa.

Nós não somos sociais democratas. Nós não somos Democratas. Nós não somos o Bernie Sanders, a Hillary Clinton, ou o Barack Obama.

Nós somos socialistas

Muitas coisas são ditas sobre nós, muitas delas não sendo verdade. Este website é feito por socialistas, e nós usamo-lo para mostrar o nosso lado das coisas. O principal propósito deste website não é converter as pessoas ao socialismo, mas sim educá-las acerca do que os socialistas acreditam, e desacreditar as mentiras ditas sobre nós. Se estás interessado em aprender mais, visita os links abaixo.

Questões frequentes

Socialismo? Isso não é simplesmente para adolescentes angustiados?

Claro que não! Algumas das maiores e mais inteligentes personalidades da nossa era—Albert Einstein, George Orwell, Hellen Keller, Leila Kahled, Malala Yousafzai, Martin Luther King Jr., Nelson Mandela, Oscar Wilde, Frida Kahlo, e Pablo Picasso apenas para mencionar alguns—aperceberam-se que o capitalismo é um sistema injusto e insustentável que precisa ser substituído pelo socialismo.

"Estou convencido que há apenas um caminho para eliminar estes graves males, nomeadamente através do estabelecimento de uma economia socialista, acompanhada de um sistema educacional que seja orientado para objetivos sociais. Numa economia assim, os meios de produção são possuídos pela própria sociedade e são utilizados de uma forma planeada. Uma economia planeada, que ajusta a produção às necessidades da comunidade, iria distribuir o trabalho a ser feito por todos aqueles capazes de trabalhar e iria garantir uma vivência a qualquer homem, mulher, e criança. A educação do indivíduo, para além de promover as suas próprias habilidades inatas, iria tentar desenvolver em si um senso de responsabilidade pelos seus semelhantes em vez da glorificação do poder e sucesso na nossa sociedade atual."

— Albert Einstein, "Porquê o Socialismo?", "Monthly Review", Maio de 1949

Porque devo ser um socialista?

Basicamente, socialismo somos nós que acreditamos que a humanidade deve agir de uma forma unida e organizada para enfrentar os problemas da nossa geração e de outras além dela. O socialismo é para nós que estamos cansados de como a ganância e o dinheiro gerem o nosso mundo, e de como uns poucos bilionários têm mais poder para influenciar o mundo do que o resto de nós todos juntos.

Nós trabalhadores não somos pagos pelo nosso real valor. O valor que um trabalhador produz vale mais que o salário que lhe é dado. O chefe dele explora-o e ao seu trabalho em troca de lucro - para fazer dinheiro. No local de trabalho, o trabalhador vive debaixo da ditadura do seu chefe. Ele não tem liberdade de expressão (ele pode ser despedido por dizer a coisa "errada") e não há democracia; O CEO e o conselho de diretores decide tudo - os trabalhadores não têm geralmente permissão para tomar decisões por si próprios ou pela empresa.

Sob o socialismo, todos os trabalhadores teriam permissão para colher o que semeiam e receber de acordo com o valor do seu trabalho, bem como decidir democraticamente como é gerido o seu local de trabalho. Os trabalhadores são aqueles que produzem valor, são eles quem deve receber os benefícios. Os CEOs e outros corporativos não contribuem para o valor produzido pela companhia, e mesmo assim são pagos centenas de vezes mais. Para um trabalhador ganhar tanto quanto um CEO ganha num ano, teria que trabalhar por 45 anos (fonte).

Em cima disso, adiciona também cortes fiscais para os ricos, bónus de CEO, fuga aos impostos e contas bancárias offshore, e o facto de que 8 pessoas detêm tanto quanto 50% da população mundial (Fontes: 1, 2, 3), e rapidamente teremos uma imagem clara de como está injustamente estruturado o nosso sistema económico. Mas não é assim por acidente: o capitalismo foi feito para ser injusto.

O que é o capitalismo?

Com o objetivo de entender o porquê de o socialismo ser necessário, temos que entender primeiro o que é o capitalismo. O capitalismo é a atual forma de produção dominante no mundo. O capitalismo permite a detentores privados possuir os meios de produção, isto é, propriedade (produção) privada tal como fábricas e outros sítios de trabalhos. O capitalismo permite a qualquer um (com capital suficiente) criar um negócio e produzir qualquer coisa que queira, sem obrigação de ter qualquer trabalho, e sem qualquer tipo de dever ou obrigação para com o resto da sociedade.

Quais problemas têm os socialistas com o capitalismo?

Os socialistas não acreditam que o capitalismo seja inerentemente maldoso, ou que nunca deveria ter sido inventado. Por outro lado, se pegares num socialista e o mandares para a era do feudalismo antes da Revolução Industrial, eles iriam sem qualquer sombra de dúvidas apoiar o estabelecimento do modo de produção capitalista. O capitalismo aumentou inquestionavelmente a produção global muitas vezes, e aumentou os padrões de vida de milhões de pessoas que costumavam trabalhar em campos para senhores feudais. Mas tal como o avanço tecnológico está sempre a avançar em frente, também o deve fazer a sociedade, e nós socialistas acreditamos que o capitalismo é um sistema ultrapassado. Nós não acreditamos que o capitalismo seja o modo final de produção, e acreditamos que o capitalismo deve ser substituído por um sistema superior. O capitalismo é politicamente, económicamente, e ecologicamente insustentável.

Mas isso suscita a questão: O que, especificamente, está errado com o capitalismo?

Essencialmente, o capitalismo permite que qualquer um (desde que tenha capital suficiente) crie o seu próprio negócio e produza qualquer coisa que queira, da forma que queira, sem qualquer consideração pela democracia no local de trabalho, igualdade na participação no serviço (o dono não tem sequer que trabalhar, apenas detém o local de trabalho), ou de facto como o resto da sociedade está. Um capitalista (um dono de meios de produzir capital e um membro da burguesia, ou de uma classe "superior") não tem que se preocupar se aquilo que o seu negócio está a produzir é necessário para a sociedade ou não. Tudo com que um capitalista tem que se preocupar é em ter lucro. É por isto que os socialista vêm o capitalismo como, entre outras coisas, ecologicamente insustentável; porque a Terra tem um número limitado de recursos, e cada país tem um espaço limitado para uma quantidade limitada de fábricas. Sob o capitalismo, estas fábricas são usadas por tudo e por nada que gere lucro, não para gerar coisas que a sociedade atual realmente precise. Isto leva a que pessoas que vivem na pobreza possam conseguir comprar um smartphone, mas nem sempre ser capazes de pôr comida na mesa. Uma sociedade capitalista produz demasiado daquilo que não precisamos, e muito pouco daquilo que precisamos, porque um sistema capitalista é baseado no lucro dos capitalistas, e não nas necessidades humanas.

Mas os capitalistas não decidem que é tempo de parar de fazer dinheiro quando alcançam um certo património líquido. Pelo contrário, os capitalistas nunca estão felizes e tentam continuamente fazer o máximo dinheiro possível. O problema com isto é que o dinheiro é uma construção meramente social e não tem qualquer valor inerente. O dinheiro só por si não tem qualquer valor, mas em vez disso representa o valor de algo que exista algures. Mas este valor não é infinito. Os capitalistas não conseguem fazer dinheiro para sempre, porque eventualmente terão acumulado todo o valor do mundo e terão que começar a tirar dinheiro dos pobres. E no entanto foi exatamente isso que aconteceu: Os ricos ficam mais ricos, e os pobres ficam mais pobres. O capital do mundo o valor do mundo, foi acumulado por cerca de 100 indivíduos ricos, e esta acumulação continua a ocorrer. E esta acumulação de capital não vai simplesmente cessar, terá que ser parada.

Um dos mais famosos críticos do capitalismo, bem como um dos fundadores do socialismo, foi Karl Marx. Ao longo dos anos, Marx descreveu vários problemas do capitalismo. Abaixo estão alguns dos exemplos.

Os trabalhadores recebem pouco, enquanto que os capitalistas ficam mais ricos.
Provavelmente o mais óbvio dos problemas que Marx tinha com o capitalismo era que os trabalhadores, aqueles que têm todo o trabalho, recebem muito pouco, enquanto que os capitalistas ficam cada vez mais ricos. O método que os capitalistas usam e têm usado desde o início do capitalismo é o método de acumulação primitiva ("Urspüngliche Akkumulation"). Os trabalhadores produzem algo por um preço, e os capitalistas vendem isso por um preço muito mais alto, enquanto que simultaneamente diminuem o máximo possível os salários dos trabalhadores, de forma a maximizar os lucros. O lucro que os capitalistas têm através do uso do método da acumulação primitiva é chamado de mais-valia. De acordo com Marx, este "lucro" é simplesmente roubo. roubado pelos capitalistas aos trabalhadores que deram no duro. Marx acredita piamente que os trabalhadores têm o direito ao valor daquilo que produzem, e que aqueles que trabalham com meios de produção devem, sozinhos, possuir esses meios de produção. Por outras palavras, Marx acreditava que aqueles que trabalham no local de trabalho devem detê-lo coletivamente e democraticamente decidir como esse mesmo local de trabalho deve ser gerido. As únicas pessoas com permissão para ser donos de algo que pode gerar capital são aqueles que realmente geram esse capital.

Capitalismo é alienante - "Entfremdung."
Marx percebeu que o trabalho pode ser a fonte da nossa maior felicidade, mas que o capitalismo tornou-o em algo que todos detestamos. Toda a gente odeia a segunda-feira. Segunda-feira é o dia em que perdemos a liberdade do fim-de-semana e no qual começamos a trabalhar. Mas porque é que as pessoas odeiam a segunda-feira? Porque é que as pessoas não desfrutam do seu trabalho? Essencialmente, o trabalho moderno põe-nos a fazer uma coisa durante todo o dia, mas aliena-nos daquilo que acreditamos com que poderíamos idealmente contribuir para a sociedade. Alguém que possa querer escrever sinfonias pode ter que trabalhar numa fábrica, porque precisa de ganhar dinheiro de forma a conseguir comprar comida e pagar a casa. E por outro lado, algumas pessoas que trabalham com aquilo que sentem ser um contributo para a sociedade (professores, por exemplo) recebem muito pouco para o fazer. Outro problema que contribui para a alienação é que o trabalho moderno ficou extremamente especializado. Os capitalistas e donos de fábricas mão querem que mestres artesãos produzam cadeiras na sua fábrica de mobília, eles querem ser capazes de contratar qualquer um para produzir uma perna da cadeira, e outros três mais para produzir outras três pernas, porque assim é mais fácil despedir e substituir alguém se há lucro a ser feito, ou se houver aumento de produção com avanço tecnológico. Dez pessoas podem ser substituidas por um computador e por um engenheiro para controlar esse computador, deixando 9 pessoas desempregadas, tudo em nome do lucro.

O capitalismo é muito instável.
Desde o seu começo, o capitalismo está cheio de crises económicas. Os capitalistas podem pintar estas crises como "anormalidades" e "raras" e "perto de ser a última", mas isto está longe de ser verdade, argumentou Marx, porque o capitalismo é instável na sua própria natureza. O capitalismo sofre de uma crise de abundância, em vez de, como no passado, crises de escassez. A produção moderna é simplesmente demasiado efetiva. Produzimos demasiado: Muito mais do que aquilo que conseguimos consumir. O trabalho moderno é tão produtivo que conseguiríamos dar a todos na Terra uma casa, um carro, água e comida suficiente, bem como acesso gratuito a uma boa escola e a um bom hospital. Mas, de acordo com cálculos feitos pelo Programa Alimentar Mundial, há mais de 795 milhões de pessoas no mundo que não têm comida suficiente para levar uma vida ativa e saudável. E de acordo com a Campanha Global pela Educação, mais de 70 milhões de pessoas não têm acesso à educação. Se apenas produzíssemos coisas que precisamos, em vez de, por exemplo, 24 marcar diferentes de sabonete, muitos poucos de nós realmente teríamos que trabalhar, e conseguiríamos assegurar que a pessoa comum tem o que precisa para sobreviver. Uma vez que as pessoas têm comida suficiente e um lugar onde viver, poderíamos começar a preocupar-nos com produzir menos bens essenciais.

O que é o socialismo?

Quando a maioria das pessoas (no mundo ocidental, incluindo a América do Norte e a Europa) ouve a palavra "socialismo" automaticamente pensam nos estados da Escandinávia e da Europa Central que têm impostos altos e diferente formas de redes de segurança social. É um equívoco comum pensar que estes países sejam socialistas. O termo para descrever corretamente estes países é "social democracia", que é a forma revisionista do socialismo que não advoga para a transação para o modelo de produção socialista. Estes países para qualquer dos efeitos continuam a ser capitalistas; eles defendem uma reforma do atual status quo, e não uma transição completa do capitalismo para o socialismo.

O socialismo é, na verdade, uma teoria política e económica de organização social que defende que os meios de produção, distribuição, e troca devem ser possuídos e regulados pela comunidade como um todo, em vez de ser possuídos por indivíduos privados.

Os socialistas acreditam que os trabalhadores têm o direito de "colher aquilo que semeiam", ou seja, que têm direito ao valor que produzem, e que os capitalistas que não fazem nada para além de deter o negócio, fábricas, corporações, etc., não têm qualquer direito de roubar o valor proveniente do trabalho árduo dos trabalhadores. O socialismo é inerentemente uma ideologia anti-capitalista, e os socialistas acreditam que o capitalismo é um sistema ultrapassado que tem que ser substituído, de forma a que a classe trabalhadora se liberte verdadeiramente da opressão e exploração.

O "socialismo" também pode ser usado como um termo guarda-chuva, que descreve uma coleção de ideologias que defendem um modo de produção socialista. Isto inclui mas não está limitado a:

  • Anarquismo

  • Comunismo

  • Socialismo democrático

  • Socialismo libertário

  • Sindicalismo

Grande parte das formas de socialismo são baseadas, ou pelo menos inspiradas, no Marxismo.

Qual é a diferença entre social democracia e socialismo democrático?

Em termos simples, o socialismo democrático defende a transição (seja através de revolução ou de reformas) do modo de produção capitalista para o modo socialista acompanhado por um sistema democrático, enquanto que a social democracia defende uma "melhor" versão do capitalismo alcançada através de reformas no atual status quo que permite ao governo a detenção de (na maioria) partes não lucrativas da sociedade bem como as redes de segurança social e previdência-social pagos por aumentos dos impostos.
O que está errado com as redes de segurança social e previdência-social?

Não há nada inerentemente errado com isso. De facto, os socialistas querem mais previdência-social e segurança social para as pessoas. Os socialistas querem assegurar que toda a gente tem um sítio para viver, comida suficiente para levar uma vida saudável, bem como acesso gratuito a boas escolas e hospitais, entre outras coisas (licença paternal, leis de segurança no trabalho, licença por doença paga, férias remuneradas, etc.). O problema com o qual a maioria dos socialistas têm com os sociais democratas (que são famosos por providenciar aos seus cidadãos estes luxos) é que eles só providenciam algumas destas coisas aos seus cidadão (os sociais democratas não dão habitação gratuita, por exemplo), e que essas coisas são pagas maioritariamente através de impostos. Impostos sobre rendimentos elevados vai diretamente contra a ideias socialista de deixar os trabalhadores colherem aquilo que semeiam. Ao receber salários suados do proletariado (a classe trabalhadora e a classe média), o estado social democrata não se torna em nada melhor que a classe capitalista, que usa o método de acumulação primitiva para sugar os lucros aos seus trabalhadores. Mais sobre isto mais abaixo na página.

O que é o Marxismo?

O marxismo é uma visão do mundo e um método de análise societal, bem como uma coleção de teorias políticas e económicas que foram desenvolvidas por Karl Marx e Friedrich Engels. O marxismo foca-se ma relação de classes e nos conflitos das mesmas, e usa uma interpretação materialista do desenvolvimento histórico, e uma visão dialética da transformação social. O marxismo usa metodologicamente inquéritos económicos e socio-políticos e aplica-os à critica e análise do desenvolvimento do capitalismo e do papel da luta de classes na mudança do sistema económico.

Enquanto que o socialismo e o comunismo já existiam antes de Marx, foram ele e Engels que tornaram esse sonho utópico de uma sociedade perfeita numa ciência prática. Karl Marx e Friedrich Engels são sozinhos responsáveis pela popularização do socialismo e do comunismo por todo o mundo, e é seguro dizer-se que o socialismo se teria mantido imprático, utópico, perto de ser uma ideologia impossível de implementar sem as análises marxistas.

O que é o comunismo?

O comunismo é uma ideologia e movimento social, política e económica cujo maior objetivo é o estabelecimento de uma sociedade comunista. Uma sociedade comunista é o último estágio do socialismo (de uma perspectiva materialista da história, vê: Marxismo). É definido como uma ordem socio-económica estruturada sob a propriedade comum dos meios de produção e a ausência de classes sociais, dinheiro, e um estado. O termo "sociedade comunista" deve ser distinguido do conceito ocidental de "estado comunista", pois este refere-se a um estado regulado por um partido que professa uma variação do Marxismo-Leninismo.
Qual é a diferença entre socialismo e comunismo?

Na teoria marxista, o socialismo é o estado de transição entre a queda do capitalismo e a ascensão do comunismo. O comunismo é um estado mais avançado do socialismo, e o socialismo é um estado mais precoce do comunismo.

Países "comunistas" como a China ou Cuba, Laos, Nepal, e Vietname nunca proclamaram alcançar o comunismo, mas são comunistas no sentido de que o seu objetivo (ou pelo menos o suposto objetivo) é o estabelecimento de uma sociedade comunista.

Então os comunistas são socialistas?

Sim, todos os comunistas também são por definição socialistas, mas nem todos os socialistas são comunistas. A maioria dos socialistas concordam que, teoricamente, o comunismo deve ser o próximo modelo de produção depois do socialismo, mas outras ideologias socialistas têm as suas próprias ideias sobre como essa sociedade deve ser alcançada e sobre como deveria ser (e se consegue ser sequer alcançada). Para além disso, muitas organizações socialistas e partidos políticos já não querem ser associados à palavra comunismo, depois da União Soviética e o Bloco de Leste terem mudado essencialmente o sentido da palavra comunismo de "uma sociedade global sem estado, sem dinheiro, sem propriedade privada dos meios de produção" em "um estado governado por um partido político marxista-leninista".

Os socialistas defendem a democracia ou a ditadura?

Democracia. Em nenhum estado do socialismo é necessária uma ditadura. Os socialistas, no entanto, defendem a chamada "ditadura do proletariado", que não deve ser confundida com uma ditadura atual. Na teoria marxista, todas as sociedades que têm classes económicas também têm uma ditadura de uma dessas classes. Numa sociedade capitalista, a classe burguesa tem poder político sobre o proletariado, e sendo assim as sociedades capitalistas podem ser chamadas de ditadura da burguesia. Por outro lado, uma sociedade socialista é suposto ser regulada pela classe trabalhadora, sendo então ditadura do proletariado, como em "poder na classe trabalhadora". No entanto, a ditadura do proletariado apenas existe numa sociedade socialista. Numa sociedade comunista, que não tem classes, não há ditadura de nenhuma classe em particular.

Dito isto, muitos socialistas acreditam que é impossível alcançar o socialismo através democracia burguesa (social, parlamentar), porque esses sistemas estão desenhados pelos ricos como forma de manter os ricos no poder. Mas é mentira que os socialistas não querem democracia. Na verdade, os socialistas querem mais democracia do que a que já existe: Os socialistas querem uma democracia verdadeira onde as opiniões e os votos de todos realmente importam. Os socialista não querem simplesmente mais democracia direta (isto é, permitir à população controlar mais diretamente a forma de como o seu país é governado, em vez de simplesmente deixá-la votar num "representante" que promete levar os seus interesses avante, mas que não tem nenhuma obrigação real para o fazer), mas também permitir um controlo democrático dos meios de produção. Ou seja, permite que todos os trabalhadores decidam democráticamente como é gerido o seu local de trabalho, o que é produzido, quanto deve ser vendido, e por aí fora.

A Alemanha era Nazi era socialista?

Apesar do Partido Nazi se ter chamado "Socialista Nacional", não era socialista. Os Nazis promoviam ideologia corporativista e colaboracionista de classes, que eles apelidaram de "socialista" numa tentativa de ganhar o apoio da classe trabalhadora (o socialismo era uma ideia muito popular na Alemanha daquela época). Na prática, a Alemanha Nazi privatizou grande parte da economia, tornou ilegais as uniões independentes de trabalhadores, e colocou comunistas, socialistas, e sociais democratas em campos de concentração em conjunto com outro cidadãos "indesejados", tal como judeus, pessoas de cor, pessoas com deficiência, etc.

Não seria permitido a ninguém ser dono de nada sob o comunismo?

Se tens medo que comunistas entrem em tua casa e levem a tua Xbox porque a propriedade privada foi abolida, podes dormir descansado porque "propriedade privada" não é o mesmo que "propriedade pessoal." Propriedade privada refere-se a meios de produção (fábricas, maquinaria, etc.), enquanto que propriedade pessoal se refere às coisas que tu, a pessoa comum, possuis. A tua casa, o teu carro, e a tua Xbox são tudo propriedade pessoal, e pertençem-te.

Um contínuo receberia tanto quanto um médico sob o comunismo?

Não, os comunistas defendem que todos os trabalhadores recebem o crédito que merecem. Um médico contribui mais para a sociedade do que um contínuo, consequentemente o médico recebe mais que o porteiro, mas ambos precisam de comida, água, uma casa, serviço de saúde, educação, talvez um carro, etc. O médico, no entanto, pode vir a ter melhores coisas, mais dias de férias ou de folga, menos horas, e outros benefícios não monetários.

Há ainda o aspecto onde posições menos importantes como "contínuo" possam nem sequer existir sob o socialismo ou comunismo, e que dever de limpar seria partilhado pelas pessoas de uma certa comunidade (com um local de trabalho ou um bairro por exemplo).

E ao fim e ao cabo, os comunistas querem abolir completamente o dinheiro.

 
 

Nesta cena de "Star Trek: First Contact" o capitão Picard explica a uma mulher do século 21 como a "economia do futuro é um tanto quanto diferente" e que o dinheiro já não existe. Picard descreve como "a aquisição de riqueza já não é a força que move as nossas vidas" e que em vez disso "nós trabalhamos para nos melhorar-mos a nós próprios, e ao resto da humanidade."

No entanto, a abolição do dinheiro não viria mesmo tempo que a abolição do capitalismo. O dinheiro seria ainda usado numa sociedade socialista, provavelmente por centenas de anos. Uma parte importante do socialismo é que os trabalhadores já não seriam explorados pelos seus patrões, e poderiam livremente desfrutar dos frutos do seu trabalho. Por algum tempo, isto manifestar-se-ia como dinheiro que poderia ser usado para comprar bens consumíveis: videojogos, carros, cigarros, boa comida, etc. Qualquer coisa que uma pessoa comum queira. Se o socialismo se tornasse o modo de produção dominante no mundo, e a automatização e produtividade continuasse a crescer à sua taxa atual, a necessidade do dinheiro, bem como a necessidade de um estado, iria desaparecer. Neste ponto, uma sociedade socialista iria começar a transitar para uma sociedade comunista.

Dois vídeos muito bons que recomendo são “Humans Need Not Apply”, de CGPGrey e The Rise of the Machines – Why Automation is Different this Time”, de Kurzgesagt. Eles tratam ao detalhe o quanto a automatização é para a atual sociedade capitalista. Contudo, sob o socialismo/comunismo, a automatização seria simplesmente benéfica. Iria permitir a mais pessoas gastar o seu tempo em algo que elas realmente quisessem, em vez de estar a trabalhar numa fábrica.

Mas todas as tentativas de socialismo não acabaram por falhar? E então o Stalin, os gulags, e por aí fora?

Não, muitas delas tiveram sucesso. Em muitos sítios onde ouviste falar de uma revolução socialista, as condições materiais melhoraram imenso. Se não tivesse havido uma revolução nesses lugares, e tu provavelmente nem ouvirias falar muito neles, e possivelmente seriam como todos os países capitalistas pobres em África, na América do Sul, e Ásia.

No que toca a questões como "o Stalin foi responsável por milhões de mortes?", os socialista raramente concordam entre si. Há geralmente três formas de os socialistas olharem para o Stalin e a sua era de poder:

  1. Stalin era um ditador brutal que traiu Lenin e o socialismo como um todo.

  2. Stalin fez o melhor que pôde numa má situação (Segunda Guerra Mundial).

  3. Stalin não era um ditador e fez boas contribuições para o socialismo e para o mundo em geral.

Mas em vez de tentar argumentar por um lado ou por outro, vou recomendar uns quantos livros que argumentam sob diferentes pontos de vista na matéria que podes ler. Os links estarão disponíveis no fundo desta página.

A social democracia, ou "o socialismo ao estilo nórdico" uma alternativa viável ao capitalismo?

A social democracia é um sistema que, por definição, defende a justiça social dentro do espectro de uma economia capitalista. Não serve como uma alternativa ao capitalismo em si, mas sim como uma versão tanto quanto diferente e "mais amigável". Para muitos, o sistema social democrata apresenta-se como um bom meio-termo entre capitalismo e socialismo. Mas a social democracia é um sistema construido não só na exploração de trabalhadores no país em que é estabelecida, como também uma exploração imperialista dos países de "terceiro mundo" do hemisfério sul. A social democracia não é viável sem a luxúria que o trabalho barato offshore oferece. Se as condições para os trabalhadores em países do terceiro mundo melhorarem (Ex. trabalho infantil ser proibido e o dia de trabalho ser reduzido de 12 horas para 8 ou 6 horas), os padrões de vida em países de social democracia decrescem.

Mais criticas à social democracia incluem o facto de que os sistemas socias de países sociais democratas ainda servem a burguesia. Os ricos e as corporações trabalham incansavelmente para desfazer as vitórias ganhas pelos trabalhadores através de meios democráticos (serviço de saúde universal, educação gratuita, subsídios de desemprego, aumento do salário mínimo, etc.), o que resulta em efetivamente metade do parlamento num dado país social democrata ser burguês, e a outra metade ser social democrata, e onde ambos os lados levam uma batalha política que nunca tem um fim nem um vencedor. Os curtos termos de 4 anos apenas se apresentam como uma adição ao problema: um partido com maioria na representação parlamentar num país social democrata tenta desesperadamente fazer o máximo de medidas a curto-prazo, e não fazem nada quando não têm a maioria, o que leva a que nenhum partido faça qualquer compromisso a longo-prazo e praticamente abandone a sua ideologia completamente. Torna a política num jogo onde as pessoas votam na sua equipa favorita, não por nenhuma razão ideológica mas porque elas acreditam que a sua equipa seja a melhor, ou tem o logótipo mais bonito, ou o melhor slogan, ou o líder partidário mais bonito, ou simplesmente porque os seus pais votam naquele partido. (fonte)

O socialismo/comunismo não funciona por causa da natureza humana.

Um rápido olhar para a história e a antropologia arruína a ideia de que a "natureza humana" é uma coisa estática e imutável. A natureza e comportamento humano são parcialmente plásticos (reflexos de condições históricas e culturais em relação com o modo de produção específico), o que é evidenciado pelas vastas disparidades no comportamento humano e na organização social ao longo dos vários períodos históricos e localizações geográficas. A sociedade civil, o comportamento e ideologia humana mudaram com o passar do tempo da mesma forma que as espécies mudam geneticamente com o tempo.

Olhar para as pessoas numa sociedade capitalista e concluir que a natureza humana é egoísta, é como olhar para as pessoas de uma fábrica onde a poluição está a destruir os seus pulmões e dizer que é da natureza humana tossir.
— Andrew Collier, "Marx: A Beginner’s Guide"

Os argumentos de natureza humana resumem-se ao facto de que a ideologia dominante da sociedade é moldada pelas relações económicas de base. Por outras palavras, nós tomamos como "natural" o facto de trabalhar por incentivos monetários porque essa é basicamente a única escolha que temos de momento. Parece "natural" que haja uma hierarquia porque a temos nos nossos trabalhos, na nossa democracia, e em nossa casa graças às relações familiares patriarcais, etc. Os humanos parecem gananciosos "por natureza" porque sem dinheiro, passamos fime ou não conseguimos pagar por abrigo, então é do nosso interesse tentar acumular dinheiro dada a atual configuração económica. O capitalismo obriga literalmente os capitalistas a comportarem-se de uma forma que pode ser tomada como gananciosa, porque se não o fizerem, o seu concorrente fá-lo-á e eles perderão ou serão postos fora do negócio. É o sistema que faz com que estas coisas pareçam naturais ou essenciais.

Mas Engels e Marx e outros refutaram essas coisas cobre a natureza humana ao olhar para a história. Entre muitas nações nativas nas Américas, não havia dinheiro. Como, então, é que uma coisa se faz se o dinheiro é o único incentivo para trabalhar? Há também toneladas de evidencias que os humanos, por milhões de anos, operaram mais ou menos comunitariamente, com menos ou nenhuma hierarquia. Se fosse "natureza humana" inata, como poderia ter sido assim? Como poderiam humanos gananciosos cooperar e sobreviver durante milhões de anos de escassez se eles fossem todos egoístas e puramente narcisistas por natureza?

Atribuir o comportamento humano contemporâneo à "natureza humana" sem olhar para a história e sem considerar os efeitos do ambiente e das relações sociais que moldam necessáriamente o comportamento humano é simplista e não-cientifico, e é usualmente uma desculpa feita pelos politicamente fracos ou por aqueles que beneficiam do atual sistema económico.

Eu realçaria que há um enorme esforço de propaganda para controlar esta narrativa e forçá-la nas nossas mentes. Mas o real ponto da questão, que Marx te diria, é que é por causa do sistema (capitalismo) que força essas condições sobre ti. De maneira a suceder no capitalismo, normalmente compensa ter comportamentos gananciosos, e muitas situações existem onde não ser ganancioso leva-te a ficar para trás e é um risco a perder. E perder no capitalismo é tornares-te num escravo de dívidas, se não mesmo ser sem-abrigo, falido, faminto, e noutra palavra, oprimido. E é aqui que as ideias de Marx realmente ganham poder. Se queres mudar este comportamento - de agir de forma gananciosa - então tens apenas que mudar o sistema em que essa pessoa está inserida. Se estás num sistema (socialismo), onde tens sempre uma casa, tens sempre comida, tens sempre cuidados médicos, tens sempre água - então não será necessário ter comportamentos gananciosos com vista a sobreviver e ter uma vida digna e com propósito. O Marx defenderia que a ganância sairá da condição humana. Tal como a pobreza e a guerra. Esta era a ideia perigosa de Karl Marx - Não irias apenas mudar o mundo, mas sim toda a humanidade.

Ninguém iria querer trabalhar sob o comunismo.

O incentivo para trabalhar é o mesmo de sempre: o que é permitido pelo modo de produção. O egoísmo não é a principal motivação para trabalhar em muitas épocas. É tolo pensar que sem o capitalismo e os capitalistas ficaríamos simplesmente parados à espera de morrer à fome. A vasta maioria da história humana deu-se sem estas coisas, numa espécie de comunismo primitivo.

Pensa nesta forma: Tu e dois amigos vivem numa quinta. Todos precisam de um celeiro, então vocês juntam-se para construir um celeiro. Alguém corta a madeira, alguém faz os planos, alguém arrasta a madeira para onde deverá ficar o celeiro, e então todos constroem o celeiro juntos. Uma vez que os três precisam do celeiro, e os três vão usá-lo, não há necessidade de ser trocado dinheiro durante este processo. Os meios de produção do celeiro são da pertença dos três num método comunal. Parabéns: acabaram de participar no comunismo. Não doeu, pois não?

Não há nenhum "Diretor Executivo da construção do celeiro" que manda nos outros dois, lhes paga um salário, e então se torna o único dono do celeiro, cobrando aos outros dois cada vez que estes usem o celeiro. Porque isso é ineficiente. O capitalismo é ineficiente. O capitalismo não funciona, por causa da "natureza humana".

O socialismo/comunismo é idealista.

Isto não poderia realmente estar mais longe da verdade. O socialismo é baseado em materialismo histórico e dialético, em vez de em dialética hegeliana. Isto significa que é fundado numa evidência com base materialista que percebe a sociedade, e os conflitos que surgem nos diferentes interessas das classes - manifestando-se em conflito físico como oposição a batalhas ideológicas. O marxismo é o equivalente social do método científico, é analítico e avança e muda as suas análises com base nas mudanças na sociedade.

Leitura adicional Do Socialismo Utópico ao Socialismo Científico por Friedrich Engels.

Então como seria a vida sob o comunismo?

O que é importante perceber é que o comunismo não é um plano detalhado que foi detalhado e pelo qual devemos delinear a nossa sociedade. O comunismo não é um ideal, na medida em que é um conceito em que alguém pensou num dia e pelo qual nos esforçamos para atingir um dia, é o resultado da dialética material da sociedade de classes.

Como marxistas compreendemos que as contradições inerentes da sociedade capitalista, como a que o dono de um negócio terá sempre um interesse fundamental em aumentar os seus lucros e que os trabalhadores têm em contradição um interesse em aumentar o seu salário (mais lucro para o dono e mais salários para os trabalhadores são interesses materiais contraditórios), levará inevitavelmente, e até já levou, à luta de classes. Esta luta não pode ser resolvida sem mudar fundamentalmente as relações materiais das duas classes em questão - os patrões e os trabalhadores - para os meios de produção. Por outras palavras, acaba ou com a ruína das classes em questão, ou com uma reconstrução da própria sociedade.

O socialismo é o único sistema que seguindo o capitalismo industrial moderno não possui luta de classes. Com o tempo, com o estabelecimento do próprio socialismo como modo de produção dominante no mundo, e com o conceito da classe capitalista dissolvido após a abolição da propriedade privada, a sociedade irá derramar os legados capitalistas. O conceito de dinheiro ou de moeda, por exemplo, está ligado à opressão de classe - existem não para "permitir que trabalhadores esforçados colham as recompensas do seu trabalho", mas para o impedir; para mantê-los no fundo da sociedade onde estão, e proibi-los de ter conforto.

O comunismo é o princípio de "de cada qual segundo as suas capacidades, de cada qual segundo as suas necessidades", o que significa que todos contribuem mediante as suas capacidades. e que todos recebem tudo que necessitam proveniente do trabalho dos outros. No capitalismo, existe alienação—não sabes o nome do produtor cujas galinhas puseram os teus ovos, e embora vocês sejam ambos trabalhadores são separados como "produtor" e "consumidor", mesmo que noutro contexto também serás um produtor, e o agricultor será um consumidor. No comunismo, trabalhamos por um senso de obrigação de compensar a sociedade que nos mantém vivos. É o mesmo sentimento que cada um tem pela sua família - os filhos trabalham para cuidar dos seus pais quando estes chegam a uma idade avançada e com um sentimento de retribuir às pessoas que lhes deram de vestir e de comer. O comunismo pega neste conceito e estende-o não só à família mas também a amigos, vizinhos, colegas de trabalho, etc.

Os mínimos detalhes da vida sob uma hipotética sociedade comunista são, na minha opinião, desinteressantes; porque o comunismo será a evolução orgânica do socialismo, e não segue um traço delineado de nenhum grande arquiteto. Há muitas teorias detalhadas acerca da organização de uma sociedade socialista, desde a comunista anarquista, até ao bolchevismo, mas qualquer versão do socialismo acaba com uma vitória sob o capitalismo, sendo um trampolim para alcançar o comunismo. O comunismo não será alcançado por um decreto do governo ou simplesmente colocado na constituição ou leis, mas irá emergir por si só pela própria essência da sociedade capitalista. Friedrich Engels disse, em Anti-Dühring, "A interferência do poder estatal nas relações sociais torna-se supérflua de uma esfera para a outra, e então deixa de existir. O governo de pessoas é reposto pela administração de coisas e a direção dos processos de produção. O estado não é "abolido", apenas se desvanece."

O socialismo/comunismo é muito bonito no papel, mas não funciona na prática.

Sim, funciona. Tal como o capitalismo ou o feudalismo funcionam. A questão não é "funciona?", a questão é "qual funciona melhor para o homem comum?" e desde que o socialismo é uma ideologia feita a pensar no homem comum, em vez de nos ricos, e a história já nos mostrou que apenas o socialismo é capaz de tornar um país feudal subdesenvolvido numa potencia industrial moderna em apenas alguns anos, não há que duvidar que o socialismo não só funciona, como funciona melhor que as outras alternativas.

Esta questão lembra-me da piada "O comunismo é muito bonito no papel, mas na prática é normalmente sabotado por um golpe de estado militar financiado pela CIA." Que até tem alguma verdade.

Sempre que houve uma tentativa de socialismo, os Estados Unidos intervieram quer diretamente através de guerra contra países socialistas:

  • Guerra da Coreia 1950-53

  • Crise do Líbano 1958

  • Invasão da baía dos porcos em Cuba 1961

  • Rebelião Simba 1964

  • Guerra do Vietname 1965-75

  • Insurgência comunista na Tailândia 1965-83

  • Força multinacional no Líbano 1982-1984

  • Invasão de Grenada 1983

Quer através do uso da CIA para executar uma mudança de governo:

  • golpe de estado iraniano em 1983 no qual os Estado Unidos derrubaram um socialista democraticamente eleito (Mohammad Mosaddegh) a favor de um ditador autoritário (Mohammad Reza Pahlavi).

  • golpe de estado de Guatemala de 1954 onde os Estados Unidos derrubaram um social democrata democraticamente eleito (Jacobo Árbenz) a favor de um ditador autoritário (Carlos Castillo Armas).

  • golpe de estado chileno de 1973 onde os Estados Unidos derrubaram um socialista democraticamente eleito (Salvador Allende) a favor de um ditador autoritário fascista (Augusto Pinochet que matou mais de 3000 pessoas, torturou 30,000, e colocou 80,000 em campos de concentração).

  • golpe de estado haitiano de 1991 onde os Estados Unidos derrubaram um social democrata democraticamente eleito (Jean-Bertrand Aristide), que se acredita ter sido o vencedor das primeiras eleições honestas no Haiti, a favor de um ditador autoritário (Raoul Cédras).

E mantém em mente que o que está acima é apenas a lista de mudanças de regime feitas com sucesso pela CIA contra nações socialistas. Não inclui tentativas de mudança de regime falhadas pela CIA, nem qualquer tentativa (bem sucedida ou não) de mudança de regimes pela CIA contra nações não-socialistas. A CIA esteve envolvida em pelo meno 21 ações secretas de mudança de regime.

Ou indiretamente através de suporte prestado a inimigos socialistas:

  • Guerra civil russa 1918-20

  • Guerra civil chinesa 1944-49

  • Guerra civil grega 1944-49

  • Primeira guerra indochinesa 1946-54

  • Guerra civil paraguaia 1947

  • Emergência malaia 1948-60

  • Revolta do Mau Mau 1952-60

  • Revolução cubana 1953-59

  • Segunda guerra indochinesa 1953-75

  • Primeira guerra do Estreito de Taiwan 1954-55

  • Guerra argelina 1954-62

  • Segunda crise do Estreito de Taiwan 1958

  • Crise da América Central 1960-96

  • Crise do Congo 1960-65

  • Guerra de independência da Eritreia 1961-91

  • Rebelião de Dofar 1962-76

  • Insurgência comunista de Sarawak 1962-90

  • Insurgência no nordeste da Índia 1963-presente

  • Guerra civil dominicana 1965

  • Guerra civil do Chade 1965-79

  • Campanha boliviana 1966-67

  • Segunda guerra da Coreia 1966-69

  • Guerra da fronteira da África do Sul 1966-90

  • Anos de chumbo 1968-82 (onde os Estados Unidos ajudaram Nazis a lutar contra marxistas-leninistas anti-fascistas)

  • Insurgência comunista na Malásia 1968-89

  • Guerra de Al-Wadiah 1969

  • Conflito civil nas Filipinas 1969-presente

  • Guerra iemenita de 1972

  • Guerra civil angolana 1974-2002

  • Guerra civil etíope 1974-91

  • Guerra civil libanesa 1975-90

  • Guerra no Sahara ocidental 1975-91

  • Ocupação indonésia de Timor Leste 1975-91

  • Insurgência em Laos 1975-presente

  • Conflito civil na Turquia 1976-presente

  • Guerra de Ogaden 1977-78

  • Guerra cambojana-vietnamita 1977-91 (onde os Estados Unidos apoiaram o assassino em massa supostamente socialista Pol Pot)

  • Guerra civil moçambicana 1977-92

  • Rebelião no Iêmen do Norte 1978-82

  • Conflito entre Chade e Líbia 1978-87

  • Guerra iemenita de 1979

  • Guerra afegã-soviética 1979-89 (onde os Estados Unidos apoiaram grupos islamistas que "lutavam pela liberdade" que mais tarde se uniram para formar a Al-Qaeda e o ISIS)

  • Conflito interno no Peru 1980-presente

  • Guerra civil afegã 1989-92

 

Pronto, estou convencido. O capitalismo tem que sair. Como fazemos isso?

A resposta a isso variará muito dependendo das condições do país em que vives. Todos os sítios são diferentes, e não só a rota para o socialismo mas o sistema socialista em si irá variar dependendo das condições do lugar onde for implementado. O socialismo em Cuba irá inevitavelmente diferente do socialismo, por exemplo, na China.

Alguns conselhos gerais que posso dar, que se aplicam a todos por todo o mundo, é encontrar pessoas com o mesmo pensamento e coordenar-se com eles. Ficarias surpreendido ao ver o quanto um grupo pequeno de socialistas dedicados podem alcançar, por exemplo, em câmaras municipais. Se há uma organização ou partido socialista na tua área, encorajo-te a procurá-los. Eles podem não atender à tua tendência específica de socialismo, e podes ter divergências ideológicas, mas trabalhar em grupo é sempre melhor do que trabalhar sozinho.

Na América, por exemplo, muitas poucas pessoas se incomodam em comparecer nas reuniões do conselho da cidade. Um grupo aparentemente pequeno de pessoas pode ter um grande impacto por simplesmente aparecer e defender políticas a favor dos trabalhadores (transporte público por toda a cidade, por exemplo).

Políticas simples de bem-estar que podem parecer "incrementalismo" e uma perda de tempo, podem conceder aos trabalhadores mais poder de negociação. É do interesse da burguesia manter uma porção da classe trabalhadora desempregada (o "exército de reserva de trabalho", como Marx lhe chamava) e desesperada por dinheiro para comprar comida e pagar a renda. Trabalhadores desesperados estão dispostos a aceitar trabalhos com más condições e salários pobres, desde que o dinheiro seja o suficiente para os manter vivos. Mas quanto menos desesperados os trabalhadores estiverem, através de ajudas ao desemprego por exemplo (ou então transporte público, cuidados de saúde públicos, escola pública; qualquer coisa que salve tempo e dinheiro aos trabalhadores), menos provável é que eles aceitem trabalhos com más condições, e é mais provável que considerem a sindicalização e ativismo político.

O socialismo não será estabelecido do dia para a noite, mas o caminho para lá chegar é usar todos os meios possíveis para fortalecer a posição socioeconómica do proletariado. Nas palavras intemporais de Karl Marx:

Os comunistas odeiam esconder os seus pontos de vista e os seus objetivos. Eles declaram abertamente que os seus fins podem ser atingidos apenas através do derrubamento forçado de todas as condições sociais existentes. Deixem que as classes dirigentes tremer perante uma revolução comunista. Os proletários não têm nada a perder a não ser as correntes. Eles têm um mundo a ganhar.
Homens trabalhadores de todos os países, unam-se!
— Karl Marx, Manifesto do Partido comunista, 1848